Álbum perdido de Gilberto Gil é destaque da exposição que celebra seus 80 anos no Google Arts & Culture 15/06/2022 - 10:05
“Uma viagem musical ao som de um ícone brasileiro: Gilberto Gil”, é dessa forma que o Google Arts & Culture apresenta a exposição “O Ritmo de Gil”, que celebra os 80 anos do compositor, um dos pilares da música brasileira. Inaugurada nesta terça (14), sendo capa do site - o maior agregador de museus e galerias de arte do mundo -, ela traz como destaque um álbum até então desconhecido, tido como perdido, gravado em 1982 em Nova York. Além da peça rara, o trabalho reúne quase 40 mil imagens, milhares de documentos, 721 vídeos e outras tantas gravações que contam a trajetória do artista que recentemente foi empossado e imortalizado na cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL).
O projeto, cuja pesquisa se iniciou em 2018, está disponível em inglês, português e espanhol. Mais: é a primeira retrospectiva de um artista brasileiro vivo na plataforma global.
O álbum perdido
O disco, que vem a público 40 anos após sua gravação, estava em uma fita cassete encontrada em uma gaveta e digitalizada especialmente para o Google Arts & Culture. Segundo relatos presentes no site, o nome originalmente seria “Jump For Joy” (conforme entrevista de Gil para o pesquisador Marcelo Fróes, em 2002), e foi gravado nos Estados Unidos. Ele tinha viajado para a terra do Tio Sam exclusivamente para este trabalho, logo após encerrar a turnê do disco “Luar”, lançado em 1981.
“Eu já tive o ímpeto e a curiosidade de voltar a esse álbum e, eventualmente, me reconciliar com ele e lançá-lo, mas aí o disco sumiu. Agora apareceu!”, relatou um surpreso Gil, em comentário especial para o projeto.
A ideia da gravação à época foi do então presidente da Warner Music no Brasil, André Midani, que visava ampliar a presença do músico no mercado americano. Algo que havia sido iniciado em 1979, com um projeto chamado “Nightingale”, de Gil e Sérgio Mendes. O álbum perdido, e agora resgatado, conta com nove composições, sendo oito delas com letras em inglês e apenas uma em português: “Estrela”, que seria gravada muitos anos depois, em 1997, no disco "Quanta".
A produção foi de Ralph McDonald, um percussionista trinibagoniano-americano, junto com o engenheiro de gravação Richard Alderson. Ralph levou para o estúdio os músicos Richard Tee (teclados), Grover Washington (sax), Steve Gadd (bateria), Marcus Miller (baixo) e William Eaton, um parceiro de composição do percussionista. Ambos ajudaram Gil a finalizar as canções e versões que entraram no disco.
Contudo, na volta ao Brasil, Gilberto Gil cancelou o lançamento e nunca mais teve notícias da fita master. Sobre o cancelamento, ele disse que achava que faltavam, e sobravam, coisas no produto final. “Talvez tenha me incomodado a maneira de produzir, muito pragmática. Acho que faltou brasilidade. Senti falta de músicos brasileiros, apesar da excelência dos que participaram”, revelou em entrevista à escritora e jornalista Chris Fuscaldol, em 2021. Na mesma conversa, ele completou: “Todos eles tinham experiência em estúdio, de gravações com artistas de variados gêneros musicais. Talvez até por isso eu senti falta de uma certa personalização maior”.
O álbum encontrado
Em meados de 2021, a equipe responsável pela montagem do museu virtual visitou a antiga sede da GeGe Produções Artísticas - que administra a carreira e obra do músico há mais de 40 anos - e localizou diversos objetos (fitas de rolo, DAT, VHS, cassetes, mini-DV), ultrapassados para o cotidiano, mas tesouros para a História. Entre milhares de arquivos, lá estava a fita, com capa registrando cada uma das composições presentes, suas respectivas durações, o nome do artista e do produtor.
Confira quais são as músicas do “álbum perdido”, pela ordem em que aparecem na fita:
- You Need Love
- Jump For Joy
- Estrela (Star)
- Fill Up The Night With Music
- Come On Back Tomorrow
- Somebody Like Me
- Moon and Star Girl
- When The Wind Blows (a versão em inglês de Deixar Você)
- Take a Holiday
Ouça na íntegra no site do projeto.
O Ritmo de Gil
A exposição conta com um acervo impressionante, sua discografia completa e apresenta Gilberto Gil em diversos formatos e temas, a exemplo dos capítulos que abordam “O músico”, falando de sua vida e carreira; outro com o título “A inspiração”, abordando seus encontros, amizades e a forma como isso impactou a cultura brasileira; e “A alma”, que explora o homem além da fama.
Claro, também está lá o legado da Tropicália, movimento multiartístico do qual foi um dos papas. Outro ponto marcante do acervo é a análise da sua composição “Domingo no Parque”, apresentada no Festival da Canção de 1967, quando causou polêmica, pasme leitor, por misturar elementos brasileiros com guitarras. Fosse apenas essa a polêmica dos nossos tempos, a paz invadiria nossos corações.
Entre diversas histórias esmiuçadas, a viagem segue ainda por um espaço reservado a apresentar oito momentos marcantes de sua vida. São eles:
- O exílio em Londres, em virtude da ditadura militar (lá gravou seu 4º álbum de estúdio)
- A presença impactante do artista no carnaval de Salvador
- Os dois prêmios Grammy Awards vencidos por ele (foi indicado sete vezes), pelos álbuns “Quanta gente veio ver” (1998) e “Eletracústico” (2005)
- Sua antológica apresentação na ONU (quando era ainda Ministro da Cultura do Brasil) concluída com “Toda Menina Baiana”, tendo a participação especial do Secretário Geral Kofi Annan o acompanhando na percussão.
- Sua relação com a música de outro gênio: Bob Marley.
- A conexão de Gil com o Japão.
- O reforço à importância da ancestralidade, um dos pontos altos de suas viagens ao continente africano, em especial a Benin.
- Seu atual lar: o Rio de Janeiro, que continua lindo, como Gil.
Veja a apresentação de Gil na ONU:
Plano de aula sobre o autor e sua obra
A paixão pelo Brasil e o olhar sempre voltado ao seu povo - inclusive tendo sido Ministro da Cultura (2003 a 2008), como citado anteriormente, nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, também são enaltecidos no projeto. Isso fica claro no espaço dedicado a oferecer, para download (nas três línguas do projeto), planos de aula pautados em toda a exposição, que podem ser usados em sala ou dados aos alunos para que trabalhem em seu próprio ritmo.
Sobre o Google Arts & Culture
A plataforma é mantida pelo Google em colaboração com museus renomados de diversos países. O site oferece visitas virtuais gratuitas (com a tecnologia do Street View) a algumas das maiores galerias de arte do mundo. Ao “passear” pelas galerias, é possível também visualizar imagens em alta resolução de obras selecionadas de cada museu.
Para explorar o acervo gigantesco, o site permite que o faça de diferentes formas: categorias (artistas, materiais, movimentos de arte, figuras e eventos históricos); por período ou cor; por temas; por coleções, etc. Você também pode optar por acessar o “editorial”, que traz os destaques da semana.
O serviço entrou no ar em 1 de fevereiro de 2011, com os acervos de espaços do calibre de Alte Nationalgalerie e Gemäldegalerie, em Berlim; Freer Gallery of Art, em Washington; The Frick Collection, The Metropolitan Museum of Art e MoMA, em Nova York; Uffizi, em Florença; National Gallery e Tate Britain, em Londres; Museu Reina Sofia e Museu Thyssen, em Madri; Palácio de Versalhes, na França; Museu Kampa, em Praga; Museu Van Gogh e Rijksmuseum, em Amsterdã; Museu Estatal Hermitage, em São Petersburgo; e a Galeria Estatal Tretyakov, em Moscou.