Assucena: “A Gal me pariu como a artista que sou hoje” 10/03/2023 - 17:34

No último Dia Internacional da Mulher, celebrado na quarta-feira passada, 08 de março, a equipe do programa Papo Educativa (ao vivo, de segunda a sexta, às 12h) recebeu a cantora e compositora baiana Assucena, conhecida por seu trabalho na banda As Bahias e a Cozinha Mineira. Artista trans, ela falou sobre a importância e a representatividade da data, os preconceitos sofridos e os desafios das vozes atuais. Além de apresentar a sua nova música, intitulada "Nu", que estará em seu próximo álbum, e também sobre o impactante show “Rio e também posso chorar, Fatal 50 - Assucena canta Gal Costa”

Ouça a entrevista na íntegra:

 

CONSCIENTIZAÇÃO E LUGAR DE FALA 

Assucena lembrou na entrevista que o Dia Internacional da Mulher é uma data de conscientização, de luta e que deve ser um dia de todas as mulheres. “Quando a gente reforça ser de todas as mulheres é porque nem todas são incluídas neste arquétipo do que significa ser mulher”, disse a compositora. Inclusive, reforçando que as demandas políticas, entre as mulheres e suas diversidades, negras, indígenas, trans, cis, entre tantas outras, são diferentes. Ela ainda reforçou a importância da igualdade, nas questões financeiras, trabalhistas, sócio-políticas, para alcançar níveis melhores de respeito e dignidade. 

Em outro momento, Assucena lembrou de que o machismo é uma questão estrutural e, portanto, uma questão de toda a sociedade. “Quando a gente traz o conceito de ‘lugar de fala’ não quer dizer que homens não possam falar. Todo mundo pode falar, mas a partir do seu prisma", lembrou e completou: “por muito tempo o lugar das mulheres foi invadido, ocupado, tomado por vozes masculinas. É muito importante que a mulher seja ouvida. Voz a mulher sempre teve, mas muitas foram silenciadas e apagadas”.   

 

MITOS E PRECONCEITOS

“A palavra ‘travesti’ ainda soa como um xingamento, como algo pejorativo. As famílias não debatem o assunto e a maioria das mulheres trans são expulsas de casa por volta de quando têm 12 e 15 anos", lamentou Assucena”. 

No que se refere à carreira, a cantora baiana falou também em como ser uma mulher trans impacta na sua carreira: “a sociedade ainda compra muito mais a luta por nossas dores do que por nossas belezas. Compra mais a luta pelas nossas tragédias do que por nossas obras de arte”

Outro momento marcante, em se tratando do tema preconceito, foi quando ela falou sobre o fato de a pessoa trans ser tolerada, porém apenas em alguns lugares. “Uma pessoa trans tem que poder andar à luz do meio-dia”. Assucena destacou que as pessoas trans só são aceitas em determinados locais e horários, como "prostíbulos, embaixo de um viaduto à meia-luz. Ou seja, num banco, numa padaria, como recepcionista não são aceitas”.

 

 A ARTE 

Apesar de tantas lutas, Assucena também deixa claro que a arte é ferramenta, mas também instrumento de alegria e celebração. “Só quero estar no palco, cantando a minha música, trazendo cura para as pessoas e exaltando a música brasileira”, comentou. 

 

GAL COSTA

“A Gal me pariu como a artista que sou hoje”, foi dessa forma, para finalizar a conversa, que Assucena resumiu a importância da sua conterrânea, falecida em novembro de 2022. Ela fez uma turnê celebrando os 50 anos do álbum “Fa-tal, Gal a todo vapor” (1971).

Você pode conferir essa  entrevista completa, realizada no estúdio pela equipe de jornalistas formada por Giovanna Palaoro, Patrícia Armentano, Cristiano Castilho e Beto Pacheco, no perfil da Rádio Educativa no Spotify.

 

Assucena concedeu a entrevista no primeiro bloco do programa. No segundo, o tema seguiu com a psicóloga e escritora Maria Rafart.