Beethoven não é Beethoven, ao menos é a suspeita que exame de DNA aponta 27/03/2023 - 14:17

Beto Pacheco

Pelé virou adjetivo de excelência máxima. Não é raro se ouvir que o melhor em determinada área “é o Pelé” daquela atividade. Em se tratando de música, o compositor Ludwig van Beethoven (1770-1827) também pode ter seu nome usado com a mesma intenção. Inclusive, o maestro Roberto Tibiriçá, regente titular da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP), fez essa referência em entrevista ao Papo Educativa: “John Williams é o Beethoven da música cinematográfica”. Agora, e se Beethoven não for um Beethoven?

Explico. A partir de mechas de cabelo do músico, preservadas desde o começo do século 19, pesquisadores alemães conseguiram identificar características de seu DNA. E o resultado daria uma fanfic de Dom Casmurro. Afinal, tudo indica que houve uma traição na família Beethoven, uma ou mais gerações antes do nascimento de Ludwig.

Inclusive, as quatro notas iniciais da sua famosa Quinta Sinfonia dariam uma boa trilha para um eventual thriller ou final de novela. 

A descoberta está presente em um artigo na revista especializada Current Biology. O estudo foi liderado por Johannes Krause, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionista, e aborda o fato de o cromossomo Y (a marca genética da masculinidade), presente no DNA das mechas de cabelo, não bater com o dos homens vivos hoje que têm o mesmo sobrenome e descendem do suposto ancestral de Beethoven. Isso poderia significar que, em algum momento, outro homem, sem esse sobrenome, teria gerado filhos do sexo masculino dentro da família - e é deles que o músico, provavelmente, descende.

O estudo também vasculhou o genoma dele em busca de pistas sobre seus problemas de saúde. Vale lembrar que, ao longo da vida, Beethoven perdeu a audição e teve distúrbios gastrointestinais e no fígado. 

O trabalho foi possível graças ao fato de que Beethoven, ainda em vida e já famoso, cedia mechas de seu cabelo a diversos admiradores. Afinal, selfies ainda não eram moda. A equipe do estudo teve acesso a oito dessas mechas e confirmaram que cinco delas pertenciam à mesma pessoa - além do fato de que as suas trajetórias eram bem documentadas. 

A equipe buscou homens vivos hoje que fossem possíveis parentes de Ludwig e chegaram a um conjunto de descendentes de Aert van Beethoven (1535-1609), que, segundo a genealogia, também seria ancestral do compositor. Foi então que veio a surpresa, tchan-tchan-tchan-tchan: embora os cromossomos Y desses descendentes de Aert sejam praticamente iguais entre si, eles não correspondem ao cromossomo Y do genoma das mechas. O mais provável, portanto, é que, entre Aert e o pai de Beethoven, aconteceu alguma concepção em que o pai biológico não era membro da família.

Em suma, Beethoven é o Pelé da música, mas talvez não seja o Beethoven da mesma.