Carlos Lyra, um oceano! 11/05/2022 - 09:09

Thobias de Santana

A Bossa Nova surge no Brasil na segunda metade da década de 1950. Muitos apontam a canção “Chega de Saudade”, composta por Vinícius de Moraes e Tom Jobim em 1956, como o marco inicial do gênero.

Certo é que, como um rio, o espírito da Bossa Nova serpenteou vasto território, recebeu importantíssimos afluentes até formar o seu delta, que evidentemente teve seu canal, ou braço, principal. Ninguém contesta que, entre os nomes de lembrança obrigatória está o de Carlos Lyra, um dos gigantes do movimento dessas águas cristalinas.

Carlos Lyra nasceu no dia 11 de maio de 1933 e completará 89 anos. Sua carreira como compositor alcançará neste 2022, 68 anos, se considerado como sugerido no site oficial do artista o ano de sua primeira composição - que foi em 1954 com a canção “Quando Chegares”.

Existem várias e ótimas fontes de pesquisa para conhecer melhor esse grande artista, o que vale muito a pena fazer, não apenas por sua importância, mas pela vasta quantidade de informações sobre suas obras e histórias acumuladas ao longo de sua trajetória. São dezenas de discos nos formatos CD, vinil – incluindo o 78 RPM – e peças teatrais. Lyra atuou e fez música para o cinema, realizou incontáveis apresentações e foi gravado por um número incontável de músicos no mundo todo.

Tudo que se relaciona com a obra de Carlos Lyra envolve qualidade e abundância, como é o caso, também, dos parceiros, iniciando com nomes como Vinícius, Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, passando por Ronaldo Bôscoli, Geraldo Vandré e Maria Clara Machado, desembocando em Roberto Menescal, Millôr Fernandes e Dolores Duran – não necessariamente nessa ordem.

Além de tudo isso, Carlos Lyra é um artista que se destaca na análise da história da nossa música, notadamente da fase em que participou ativamente. O músico que nasceu no Rio de Janeiro contesta, por exemplo, que a Bossa Nova seja carioca. Lyra entende que ela nasceu no Rio, mas não é carioca pelo fato de terem participado de sua geração João Gilberto, da Bahia; João Donato; do Acre; Vandré, da Paraíba; Sérgio Ricardo, de São Paulo, entre outros.

Lyra rechaça, também, que a Bossa Nova seja uma batida de Samba. Reafirma a importância de João Gilberto com a batida por ele criada para o Samba Bossa Nova, mas discorda que a Bossa Nova seja “só” samba.

Das tantas canções criadas por Carlos Lyra, vale destacar "Coisa mais Linda", "Influência do Jazz", "Lobo Bobo" e "Se é Tarde me Perdoa", apenas com o objetivo de levar você, que chegou até aqui, a buscar nas plataformas musicais um universo de belas composições desse grande artista. Criações que trazem um toque e um charme particular que o diferenciam na cena musical.

Em qualquer tempo e para além das composições e parcerias, seja no curta-metragem premiado de Joaquim Pedro de Andrade, “Couro de Gato”, o qual musicou; seja como diretor musical do Teatro de Arena; ou dirigindo, no México, entre tantas outras coisas (por lá morou 4 anos), o musical infantil “O Dragão e a Fada”; ou como cofundador do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), ao lado de Oduvaldo Viana Filho, Ferreira Gullar e outros; ou, ainda, musicando a peça “Vidigal”, de Millôr Fernandes, Carlos Lyra certamente sempre será reconhecido como um dos artistas mais versáteis, inquietos e articulados da fase moderna da cultura brasileira. Um oceano de realizações.