Em sua 40ª edição, Oficina de Música de Curitiba tem no público uma de suas principais atrações 07/02/2023 - 11:44

Beto Pacheco

O recorde de público, estimado em aproximadamente 60 mil pessoas, dessa 40ª edição da Oficina de Música de Curitiba por si só já é um feito, mas os números frios, como seriam acordes colocados à revelia da emoção, não traduzem necessariamente o sucesso do evento. O que realmente foi arrebatador, ao menos nos espectáculos e momentos que presenciei, foi a relação entre músicos e público. A cidade estava, definitivamente, mais solar e quente por esses dias. 

Foram mais de 200 shows e concertos, 1.600 alunos e 120 professores, mas para exemplificar o que quero dizer sobre o público, vamos retornar à noite do último sábado (4), quando o Teatro Guaíra foi palco de uma homenagem dupla, ao compositor e cavaquinista Waldir Azevedo (janeiro de 1923 - setembro de 1980) autor de um dos hinos não-oficiais do país, "Brasileirinho", e do compositor Paulinho da Viola, que completou 80 anos em novembro do ano passado. A apresentação ficou a cargo da Orquestra de MPB da Oficina, formada por alunos e professores, tendo o grupo de cordas regido pelo diretor artístico da Oficina de Música Popular Brasileira, João Egashira; e os sopros por Nailor Proveta (Banda Mantiqueira). Não bastasse os mais de 30 músicos, o espetáculo ainda contou com uma convidada especial: Teresa Cristina.  

A plateia, que lotava o Guairão, aplaudiu em pé inúmeras vezes, interagiu com Teresa e ainda cantou “Carinhoso” (Pixinguinha/João De Barro) a plenos pulmões, em uníssono, sem a ajuda da cantora, que só observava o momento em que o público virou a atração principal. Ao final do concerto, a orquestra saiu tocando pelos corredores e, no hall, protagonizou uma espécie de “bloco de carnaval” ao som de “Foi um rio que passou em minha vida”, de Paulinho. 

A interação músicos/público também foi o ápice do show de Edu Lobo, que convidou os jovens Ayrton Montarroyos e Vanessa Moreno para uma apresentação pra lá de especial, afinal, Edu também completa oito décadas em 2023. Ao entrar no palco, o autor de grandes clássicos como “Ponteio”, “Arrastão” e “Beatriz” foi aplaudido em pé por vários minutos. Momento que o fez brincar, dizendo que uma recepção daquela poderia colocar o coração em risco. 

Edu, que travou uma luta árdua com a cadeira, que o tentava derrubar a todo momento (um grave erro da produção), mas na qual ele permaneceu se equilibrando durante o show, mostrou estar em forma, sim, na memória, contando histórias divertidas e emocionantes ao longo do espetáculo. Ayrton e Vanessa também foram uma atração à parte, surpreendendo os espectadores que porventura ainda não conhecessem o alcance de suas vozes. 

Contudo, não foi apenas nos espaços “oficiais” que a energia dessa Oficina apareceu. O Circuito Off e até alguns encontros inesperados e improvisados deram o tom veranil e acolhedor do evento. Recordarei sempre de uma noite de segunda-feira (30/01) no Bardo Tatára, espaço que não estava na programação, mas que se viu repleto de músicos, que chegavam aos borbotões, cases às costas e uma vontade danada de fazer música noite adentro, estivessem onde estivessem. Em dado momento, cinco violinos, dois cellos, duas flautas, um pandeiro, um surdo, dois clarinetes e muitos corações ecoavam no fundo do bar, conhecido reduto da música autoral curitibana. No cantar, o público do bar, sempre aplaudindo e vibrando, onipresente nesses 12 dias de Oficina, mesmo quando os espetáculos brotavam de forma orgânica e imprevista.