Filme de Júlio Bressane baseado em "Dom Casmurro" estreia nesta quinta-feira (27) 26/07/2023 - 16:19

Um dos maiores clássicos da literatura nacional, “Dom Casmurro”, ganha uma nova leitura cinematográfica pelas mãos de Júlio Bressane. “Capitu e o Capítulo” chega aos cinemas nesta quinta-feira (27) em diferentes regiões do Brasil, inclusive em Curitiba, nas salas do Cine Passeio.

Em “Capitu e o Capítulo”, o diretor parte do que há de mais cinematográfico em Machado de Assis, e, em suas palavras, “a trama machadiana, distorcida, é transpassada por cenas, trechos, farrapos de filmes e texturas que se desdobram em capítulos de uma ficção escondida, ainda não vista, que se desvela, e recomeça em outro solo, em outro cosmos...”.

O título parte de um pequeno poema que Haroldo de Campos declamou ao próprio Bressane, em 1984. “‘O importante no Dom Casmurro não é a Capitu, mas o capítulo...’, disse-me. Capitu/Capítulo, este breve e lapidar poema, logo que o ouvi pela primeira vez, fiquei enfeitiçado, possuído por sua brevidade musical. Porém, naquele momento, não percebi, não alcancei, não compreendi toda sua extensão... Extensão na qual o Capítulo é pathos, emoção ultra acumulada, emoção extrema represada, escondida lá no fundo, oculta por severa sombra, bloqueada, sem saída. Pathologico.”

No filme, Mariana Ximenes assume o famoso papel de Capitu, cujos “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” seduzem o jovem Bentinho (Vladimir Brichta), que, anos mais tarde, na maturidade, narra toda essa história, assumindo o apelido de Casmurro (Enrique Diaz). O que era amor se tornou um ciúme doentio, em devaneios do protagonista, que acabaram consumindo a paixão.

Bressane viu em Machado a possibilidade de o transformar em filme, novamente, como já fizera com “Memórias Póstumas de Brás Cubas", em 1985. “A prosa capitular sugere a montagem cinematográfica. Os capítulos são retalhos de outros capítulos, de outras ficções, de outros recomeços, traço apagado de um perfil”, comenta sobre Dom Casmurro.

Entre outras coisas, o longa ressalta a importância de Machado para a cultura brasileira, e o Brasil como um todo. “O genial escritor brasileiro, preto, nascido pobre, marcado pelo temor da epilepsia, do implacável ataque imprevisto, foi um escritor e leitor miraculoso. Leitor forte ele desborda, ultrapassa, reescreve, recria, introduz uma música de beleza nova em uma planta transplantada de outro chão”, conclui o cineasta.

"Capitu e o Capítulo" é uma produção da TB Produções e uma coprodução Globo Filmes, distribuído pela Pandora Filmes. No FestCine Aruanda, o longa ganhou diversos prêmios, entre eles, Melhor Filme, Direção e Prêmio da Associação Brasileira de Críticos – Abraccine, e teve estreia mundial no Festival de Roterdã.

Sobre Julio Bressane
Um dos maiores representantes do cinema brasileiro, Júlio Bressane começou a fazer cinema como assistente de direção de Walter Lima Júnior, em 1965. Seu nome ganhou mais notoriedade após a realização do documentário sobre Maria Bethânia, cantora que estreou nacionalmente em 1965 e logo virou uma das maiores estrelas brasileiras. Em 1967, lançou sua primeira ficção, "Cara a Cara”. Em 1970, fundou a Belair Filmes em sociedade com o também cineasta Rogério Sganzerla. Eles optaram por um modelo de realizar filmes de baixo custo e produção e com isso conseguiram rodar seis longas-metragens em apenas seis meses. Bressane chegou a se exilar em Londres, no início dos anos 1970, mas voltou ao Brasil alguns anos depois e fez um filme atrás do outro, usando a chanchada e o deboche como suas principais características. Em 50 anos de carreira Júlio Bressane dirigiu 60 filmes que rodaram pelos principais festivais do mundo como Cannes, Veneza, Brasilia, Rotterdã, entre muitos outros.

SERVIÇO
Filme "Capitu e o Capiítulo"
Data e horário : 27/07 a 02/08 às 17h05  
Local: Cine Passeio (R. Riachuelo, 410)