Há exatos 31 anos, acidente de carro no PR silenciava Gonzaguinha 29/04/2022 - 11:00

Thobias de Santana

Na música, nem sempre os filhos de grandes artistas brilham com intensidade semelhante a dos respectivos pais. Explicações são muitas. Como a comparação entre o “criador e a criatura” com evidente desvantagem para o segundo, exatamente pela sombra da competência e fama do primeiro. Mas será que, independentemente da explicação, é sempre assim?

A resposta é não. Menos de dois anos depois da morte, em Recife, de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, morria, no Paraná, seu filho igualmente talentoso, Gonzaguinha. Ambos dispensam apresentação, mas a partida prematura de Gonzaguinha no dia 29 de abril de 1991 (confira abaixo imagens do último show), torna inevitável relembrar, com saudade, um pouco do muito que ele fez pela Música Popular Brasileira.

Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, nasceu no Rio de Janeiro em 22 de setembro de 1945. Tinha dois anos de idade quando perdeu a sua mãe, Odaléia Guedes dos Santos. Foi criado pelos padrinhos, estudou Economia na Universidade Cândido Mendes e, com amigos como Aldir Blanc e Ivan Lins, fundou o Movimento Artístico Universitário, que teve grande influência nos rumos da MPB.

Em 1973 participou de um programa de auditório de um famoso apresentador chamado Flávio Cavalcanti. Sua apresentação não deixou uma boa impressão para os jurados da época, que o rotularam de “subversivo” por ter apresentado sua composição “Comportamento Geral.” Eram tempos de ditadura militar, e sua música acabou por ser proibida. Mas, antes da censura, ocupou as paradas de sucesso também em decorrência da polêmica. Naquele período, teve mais de cinquenta canções censuradas, de um total de pouco mais de setenta apresentadas.

Seu perfil, nessa época, carregava considerável porção de ironia e acidez. Sempre na companhia de um tom crítico, inteligente, sensível e corajoso. Lembro-me dele no show do Rio Centro em 1981 - aquele do atentado - onde vários e grandes artistas participavam. Eu e uma multidão na plateia, aproveitando aquela oportunidade única de assistir a um super espetáculo com tanta gente boa, percebemos a tensão no ar após duas explosões, mas não sabíamos o que era. Até que Gonzaguinha, liderando as ações no palco, anunciou algo como: “Estão tentando acabar com a festa que vocês estão dando!” Muito seguro e sereno, acalmou os presentes, naquela triste e inacreditável página da nossa história.

A veia criativa de Gonzaguinha impressiona. Ele emplacou sucessos sucessivos como “Começaria Tudo Outra Vez”, “Explode, Coração”, “O Que É, O Que É”, “Lindo Lago do Amor” e “Grito de Alerta”, entre outros. Contou com interpretações inigualáveis de suas canções como as de Elis Regina, Maria Bethânia, Gal Costa, Simone e Fagner.

Gonzaguinha nos deixou muito cedo, há exatos 31 anos, vítima de um acidente automobilístico ao sair de um show em Pato Branco, sudoeste do Paraná, para Foz do Iguaçu. A tragédia ocorreu na PR-280, entre Marmeleiro e Renascença, na manhã daquele 29 de abril. 

Embora com estilos, perfis e trajetórias diferentes, Gonzagão e Gonzaguinha são gigantes da Música Popular Brasileira. Deixaram uma obra tão grande quanto a saudade que sentimos de suas presenças nos palcos do Brasil. Não sei se dois raios podem atingir uma mesma árvore, mas não há dúvida que dois mestres da Música Brasileira podem brilhar pertencendo a uma mesma família.