Improvável e extasiante estrela do rock brasileiro, Rita Lee morre aos 75 anos 09/05/2023 - 14:31

O rock brasileiro ficou menos colorido. E vigoroso. E debochado. E irônico. Menor. Morreu nesta segunda-feira, dia 8, a cantora Rita Lee, maior estrela do rock brasileiro. Reclusa nos últimos anos, mas não sem postar fotos e vídeos sempre pertinentes, Rita Lee recebeu um diagnóstico de câncer de pulmão em 2021. Após tratamentos, a doença entrou em remissão. Mas Rita disse até mais em casa, na companhia da família. O velório será aberto ao público, no Planetário do parque Ibirapuera. A cerimônia está marcada para quarta-feira, dia 10, das 10h às 17h, informou a família por meio de uma publicação na página da cantora no Instagram.

Não seria sem ironia sua trajetória. Uma mulher se tornou o símbolo do rock num país (e dentro de um gênero) essencialmente machista. Rita entrou em cena em 1963 como integrante do trio Teenage Singers. Foi como vocalista desse trio que Rita Lee pisou pela primeira vez em um estúdio, em 1964, para gravar vocais para álbum do cantor paulistano José Glagliard Filho, conhecido como Prini Lorez. Em 1967, ganhou os holofotes como integrante do trio tropicalista Os Mutantes, grupo paulistano que deu identidade brasileira ao rock com doses bem calculadas de psicodelia, deboche, circo e músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor e do próprio trio formado por Rita com os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Com a banda, gravou cinco discos.

Em carreira solo, sua obra-prima é o álbum "Fruto Proibido" (1975), que apresentou ao Brasil músicas como "Ovelha Negra" (Rita Lee), "Agora só Falta Você" (Rita Lee e Luiz Carlini), "Cartão Postal" (Rita Lee e Paulo Coelho), "Esse Tal de Toque Enrow" (Rita Lee e Paulo Coelho), "Luz del Fuego" (Rita Lee) e "Pirataria" (Rita Lee e Paulo Coelho. A menina crescera.

Rita foi a primeira mulher a falar de sexo e prazer em suas músicas. Em 1979, lançou “Rita Lee”, álbum em parceria com o músico, guitarrista e companheiro Roberto de Carvalho. Era um rock raiz, com uma indomada vocalista. 

Rita apresentou em 2003 o último grande disco da carreira, "Balacobaco", com o vigor autoral que se revelaria escasso no derradeiro álbum de estúdio, "Reza" (2012). Rita Lee acertou até em sua mensagem de despedida, publicada em uma das suas autobiografias. Como uma vidente de outro planeta, afeita a psicodelias e futurismos, mas sem tirar o pé do chão.

"Quando morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá. Fãs, esses sinceros, empunharão meus discos e entoarão ‘Ovelha Negra’, as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória. Nas redes virtuais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk’."