Madrinha do samba e mãe encantada, Beth Carvalho completaria 76 anos 05/05/2022 - 10:50

Thobias de Santana

Neste domingo, dia 8, é Dia das Mães. Dia dos mais especiais, em que celebramos a vida e o ser iluminado que cuidou de nós. Um ser dedicado capaz de gerar, dar à luz e amor de forma incondicional. Não raro, esse ser tudo fez e faz por seus filhos, sacrificando, se preciso, sonhos e projetos pessoais.Essa energia e espírito que rondam estes dias são perfeitos para lembrar, no campo da cultura, de uma Mulher-Mãe que é quase um símbolo da entrega, alegria e sacrifício. Uma mulher que também possibilitou o nascimento de seres que já haviam nascido, mas, através dela, Beth Carvalho, raiaram definitivamente. 

Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro em 5 de maio de 1946. Uma instrumentista que sabia compor e cantar. Que sabia encantar e dar à luz aos poetas/cantores especiais que experimentavam, ainda que de forma relativa no mundo das artes, a invisibilidade.

A cantora se aproximou da música ainda quando criança, ao ouvir sensibilizada canções com Silvio Caldas, Elizeth Cardoso e Aracy de Almeida. Mais tarde participou de muitos Festivais da Canção, conquistando, com apenas 19 anos, o terceiro lugar no Festival Internacional da Canção (FIC) de 1968 com a música “Andança” -- título de seu primeiro LP e composta pelos amigos estudantes de arquitetura Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós.

Deu à luz a vários sucessos inesquecíveis da MPB, como “1.800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “Coisinha do Pai”, “Olho Por Olho”, “Folhas Secas”, “As Rosas Não Falam”, “Vou Festejar”, entre outras. É reconhecida por sua importante participação no mundo do samba e na revelação e resgate de talentos como Nelson Cavaquinho, Cartola, Zeca Pagodinho, Grupo Fundo de Quintal e, consequentemente, seus integrantes Jorge Aragão, Almir Guineto, Sombrinha, Arlindo Cruz e Walter Sete Cordas.

Internacional
Beth Carvalho abraçou e foi abraçada pelo samba. Obteve muito sucesso na sua carreira no Brasil e fez sucesso também fora dele. Realizou turnês importantes, levando o samba para os palcos dos Estados Unidos, Cuba, Portugal, Espanha, Johannesburgo, Angola, entre outros. Ganhou, em 2012, o Grammy Latino na categoria "Melhor Álbum de Samba/Pagode", com o disco “Nosso Samba Tá Na Rua”, mas já havia sido homenageada na Cerimônia de Premiação da Academia em 2009, recebendo o prêmio Lifetime Achievement Awards como reconhecimento pela importância da sua trajetória profissional.

Mulher guerreira, sensível, determinada e amada por tanta gente, era mangueirense e botafoguense de coração, mas amiga e incentivadora de tudo que fosse bom, como, por exemplo, o Cacique de Ramos, ponto de encontro de grandes bambas e berço de um estilo de samba que virou marca dos carnavais do Rio. Uma lutadora que, mesmo nos momentos mais delicados, em que a dor oriunda de um problema na coluna tentava ofuscar o seu brilho, enfrentou como pode, numa entrega e sacrifício que talvez só quem tenha sido mãe possa entender.

Essa mulher encantadora e encantada como todas as mães, deu à luz aos belos filhos feitos de sons e letras, as canções, também aos astros em suas incubadoras que clamavam por ser paridos para a luz dos palcos e para o mundo das artes.

Seus carinhos e acalantos de mãe não foram cedidos apenas para a sua talentosa filha Luana Carvalho, mas para muitos que fizeram por merecer essa honra. Chegou ao espaço para acordar, em Marte, cantando “Coisinha do Pai”, o robô Sojourner, sendo a única brasileira a conquistar esse feito. Podem até chamá-la de rainha, ou de madrinha, tudo bem se considerada a origem da palavra, mas Beth Carvalho era, de fato, Mãe, da qual muitos se orgulham de ser filhos.