Mães se inspiram em suas próprias experiências e empreendem em negócios inclusivos 02/06/2023 - 17:15

Vinicius Carrasco e Janiele Delquiqui 

De cada 100 pessoas que vivem no Paraná, pelo menos 8 apresentam ao menos um tipo de deficiência, segundo dados do IBGE. O desafio desse público é encontrar locais adaptados às suas necessidades

De acordo com dados do IBGE de 2019, de cada 100 pessoas que vivem no Paraná, oito apresentam algum tipo de deficiência. O desafio desse público é justamente o de encontrar empreendimentos adaptados. De olho nisso, muitos exemplos estão despontando. É quando a necessidade encontra o empreendedorismo.

“A gente precisa pensar numa visão mais ampla, quando o assunto é inclusão e acessibilidade”, diz Shirley Ordônio, fundadora do projeto LIA: Lazer, Inclusão e Acessibilidade. O movimento, articulado por mães, busca repercutir a importância e propor alternativas para difundir a inclusão e a diversão às crianças com deficiência.

Criado por Shirley em 2012, em Curitiba, o projeto já chegou a mais de 40 cidades e 14 Estados. A iniciativa surgiu a partir das suas experiências. Ela é mãe de três filhos, duas gêmeas, e uma delas tem paralisia cerebral, epilepsia, autismo e é cadeirante. “Não é só a questão arquitetônica, precisamos pensar na acessibilidade atitudinal. As pessoas precisam estar preparadas para receber uma pessoa com deficiência. Em restaurantes você não vê o cardápio em braille, por exemplo. Você não vê pessoas que saibam usar o aplicativo de libras. Tem várias coisas que dá para pensar e ajustar. Isso se chama acessibilidade atitudinal: no momento, eu acho que é o que mais falta”, defende Ordônio.

Ilha inclusiva

Outro bom exemplo vem do litoral. Em abril, a Ilha do Mel se tornou a primeira ilha inclusiva do país para pessoas com o transtorno do espectro autista. Cinquenta e oito estabelecimentos comerciais, hotéis e pousadas receberam o “Selo de Empresa Amiga da Pessoa Autista’, após empresários e colaboradores participarem de cursos e adaptações necessárias para acolher este público.

Entre os empreendimentos está a pousada Fim da Trilha, de Margareth Furtado. Ela diz que o projeto traz benefícios para as famílias e para os estabelecimentos. “Nós conseguimos entender quais são as necessidades desse público. Agora temos identificação por meio de selos. Eles indicam que somos um empreendimento que pode receber os autistas. Quando essas pessoas chegam aqui e reconhecem o selo, elas ficam mais tranquilas”, explica.

Do corte de cabelo à sensibilidade

Adaptar serviços também pode ter um valor social e ser um mote para empreender. Kátia Aparecida da Silva, do Cortar e Brincar, viu no filho a oportunidade de negócio: cortar o cabelo de crianças autistas. “O meu trabalho surgiu de acordo com a necessidade que eu tive de cortar o cabelo do meu filho Samuel, que é autista. Então comecei a fazer uma rotina. Descobri que minha habilidade seria fundamental para ajudar todas as crianças que têm essa sensibilidade”.

Para tornar a adaptação mais confortável, ela vai até os clientes, vestida de personagens. “Vou até a residência das pessoas, nas clínicas em que as crianças fazem a terapia. Junto com a terapeuta que a criança já conhece, e com quem já tem um vínculo. Os resultados são muitos positivos. Hoje eu tenho crianças que não precisam mais de mim, que depois de um ano, um ano e meio, elas já conseguem ir em um salão de cabelo convencional”, conta Kátia.

Com toda sua experiência e capacidade de inovação, ela também dá dicas para quem quer empreender nessa área. “Faça um trabalho que você goste muito de fazer, que você entenda. Conheço muitas mães, conheço muitas famílias que hoje fazem algo totalmente diferente após terem o laudo do seu filho. Isso ajuda não só os filhos da gente, mas como todas as crianças nesse processo de inclusão”, argumenta.

Quem também se inspirou no filho para criar roupas para pessoas com o transtorno do processamento sensorial, muito comum em crianças com autismo, foi a designer de moda curitibana Julia Nycolack, de 25 anos. Ela cria peças para melhorar a qualidade de vida desse público. “Tico e Tica Sensory é uma marca de moda infantil inclusiva especializada em disfunções sensoriais. Atendo autistas, mas também crianças com paralisia cerebral, síndrome de down, diversas doenças raras. Eu tenho uma demanda latente do mercado. É um trabalho personalizado para cada situação. Peço para que meus clientes relatem quais são as dificuldades. Precisamos cocriar juntos! São peças que melhoraram a qualidade de vida das crianças. Então o que é que acontece: se ela está com um tecido que ela não gosta, uma modelagem que não vai responder a um perfil sensorial dela”.

Quando o assunto é acessibilidade em Braille e Libras (Língua Brasileira de Sinais), ainda há poucos estabelecimentos na capital com essas iniciativas. Um deles é a Genialgraph, o proprietário, Leônidas Caprilhone, conta que contratou uma funcionária com conhecimento em Libras “Estamos bem satisfeitos por poder ter mais essa abrangência. A gente percebe que não só o deficiente auditivo, mas em outras deficiências há uma sensibilidade que todo mundo defende, mas a gente não vê! Nos sentimentos orgulhosos, é algo que deveria ser uma obrigação e não uma opção”, defende Leônidas.

De acordo com Lucas Hann, coordenador estadual de comércio e serviços do Sebrae/PR, negócios inclusivos têm um importante papel social. Ele orienta aos empreendedores a pensarem na contrapartida coletiva como estímulo, um retorno para a sociedade e consequentemente para o próprio empreendedor. “Negócios inclusivos são empresas que estão pensando nas pessoas e na sociedade. Isso faz com que elas se tornem importantes porque elas pensam em todo o ecossistema, e isso, faz com que a sociedade ao seu entorno evolua e melhore nesses aspectos”, explica.

Segundo Hann, o Sebrae oferece orientações para os empreendedores que querem investir em negócios inclusivos. “As empresas que estão nascendo e querem se tornar inclusivas, as que já fazem um processo de inclusão e querem melhorar esse processo e as empresas que não são inclusivas, mas querem se tornar, podem procurar o Sebrae. Nós temos soluções na área específica de ESG, meio ambiente, além de consultorias socioculturais, socioeconômicas e socioambientais para melhorar esse aspecto econômico, social e cultural como um todo”.

Para receber as orientações do Sebrae/PR os interessados podem baixar o aplicativo Meu Sebrae, acessar o site www.sebraepr.com.br ou ainda acionar a Central de Relacionamento pelo telefone 0800 570 0800.