Maysa, a construtora de pontes musicais, nascia há 86 anos 06/06/2022 - 11:00

Thobias de Santana

No nosso velho e conhecido dicionário “Aurélio Buarque de Holanda Ferreira” (tenho um exemplar antigo cujo nome é “Novo Dicionário da Língua Portuguesa”) a palavra “diferente” tem como significados: “1. Que não é igual; que não coincide; que difere, diverge; divergente, diverso, desigual...”

Num mundo que ainda cultua muros em vez das pontes, algumas mulheres se destacaram na difícil luta que é convencer pessoas do óbvio. Somos todos diferentes? Sim, digitais, CPF’s, únicos como indivíduos, mas, como é evidente, absolutamente iguais como cidadãos, como humanos, nos direitos e nos deveres. A cantora Maysa era uma das que sentiam a importância em construir e atravessar pontes para a liberdade e para a igualdade. 

A cantora, atriz e compositora Maysa nasceu no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, no dia 6 de junho de 1936. Sua relação com a música começou muito cedo em decorrência da paixão de seus pais pela arte. Estudou piano clássico e começou a cantar no colégio. Muito jovem já circulava com seu pai e conhecia muitos dos grandes artistas que brilharam, como ela, no melhor cenário da música brasileira, como Tom Jobim, Dolores Duran, Elizete Cardoso e Silvio Caldas, que foi seu professor de violão.

Passados alguns anos, já casada, foi descoberta pelo jornalista, locutor e produtor Roberto Côrte-Real (irmão do ator e famoso humorista Renato Côrte-Real, parceiro de Jô Soares em quadros como, por exemplo, “Lelé e Da Cuca”, do programa “Faça Humor Não Faça Guerra”). Roberto incentivou e proporcionou a gravação do primeiro disco da cantora, com todas as músicas de autoria de Maysa. Uma iniciativa pouco comum em qualquer tempo e que merece destaque é o fato da cantora Maysa ter decidido doar tudo o que ganhasse, com o primeiro disco, para o Hospital do Câncer.

Contrariando a vontade de familiares, Maysa precisou lutar para seguir cantando. Ela fez escolhas. Boa parte de sua história pessoal, que foi explorada na época, não teria nenhuma importância se fosse protagonizada por um homem. Além de lutar para fazer o que desejava, seguindo a sua vontade, o que encorajou outras mulheres na busca por liberdade, Maysa estimulou colegas artistas a exigirem melhores condições, melhores contratos e salários.

Maysa, além de ter sido uma das maiores cantoras brasileiras, foi uma grande compositora. A canção “Ouça”, gravada também por nomes como Nelson Gonçalves e Alcione, é de autoria dessa fantástica artista. Sua discografia é repleta de sucessos, todos interpretados de forma impecável. Músicas como “Alguém Me Disse”, “Meu Mundo Caiu”, “Se Todos Fossem Iguais a Você”, “Ouça”, “Franqueza”, entre dezenas de outras.

Evidente que essa pequena homenagem serve apenas como uma singela ponte para que os amantes da música brasileira, sobretudo os que porventura não conheçam Maysa, pesquisem e se surpreendam com essa notável cantora. Lamentavelmente, foi num acidente em uma ponte que Maysa nos deixou, em 1977, mas as que ela ajudou a construir e atravessou, permitem que muitas também passem e sigam na luta para que o obvio seja compreendido e respeitado.