No aniversário de Raul Seixas, indicamos dez grandes álbuns do Maluco Beleza 28/06/2022 - 11:10

André Molina

Nesta terça-feira (28 de junho), o roqueiro baiano Raul Seixas completaria 77 anos. Morto em 1989, vítima de uma pancreatite aguda, o cantor e compositor deixou uma legião de fãs por todo o país e foi considerado por muitos o maior expoente do rock nacional. Em 22 anos de carreira, Raulzito deixou seu talento em quase 20 discos autorais. A música dele era única por se tratar do primeiro roqueiro de grande relevância a sair da Bahia, a terra do axé e da lambada. Ele não se enquadrou em nenhum movimento musical. No fim da década de 1960, rivalizou com a Tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil, e na década de 1970 se tornou um dos principais nomes do gênero nacional com um rock originalmente nordestino.

Elvis Presley e Luiz Gonzaga eram notadamente suas principais influências em canções com muitas metáforas para driblar o regime militar e passar mensagens com cunho filosófico, mas de maneira popular.

Em homenagem a Raulzito, a Educativa FM relembra 10 álbuns de sua autoria que devem ser ouvidos com atenção por quem aprecia o rock brasileiro.

“Gita” (1974)
Não é fácil eleger o melhor disco de Raul Seixas. "Gita" vale mais como uma sugestão. Além de ser um grande sucesso comercial, o trabalho emplacou clássicos como a faixa-título, "Sociedade Alternativa", "SOS", "O Trem das Sete", "Medo da Chuva" e "As Aventuras de Raul Seixas Na Cidade de Thor". Nas letras, percebe-se ainda o envolvimento de Raul e do mago parceiro Paulo Coelho com o ocultismo. Em "Sociedade Alternativa", é citada a obra "A Lei" de Aleister Crowley, conhecido como principal divulgador desta filosofia. Antes de gravar o LP, Raul anunciou que iria adquirir um terreno em Minas Gerais para a construção da "Cidade das Estrelas" (local em que desejava fundar uma comunidade paralela). A intenção do cantor chegou ao fim após ser torturado pelo DOPS e exilado nos Estados Unidos. Com o álbum, Raulzito conseguiu o primeiro disco de ouro (600 mil cópias vendidas). Ele voltou ao país após a canção "Gita" se tornar um grande sucesso nas rádios. Desta viagem, surgiram lendas como a conversa que teve com John Lennon e a experiência de comer lixo nas ruas de Nova Iorque.

“Krig-ha, Bandolo!” (1973)
Após iniciar a carreira com trabalhos autorais que não tiveram um bom desempenho comercial e uma coletânea com interpretações de canções da década de 50, o roqueiro baiano lançou seu primeiro grande sucesso. Com a canção "Ouro de Tolo", o álbum "Krig-ha, Bandolo!" consagrou Raul. A música foi uma dura crítica à classe média que se adaptou ao “Milagre Econômico”. O trabalho ainda conta com canções que se tornaram populares, como "Metamorfose Ambulante", "Mosca na Sopa", "Al Capone", "As Minas do Rei Salomão", "How Could I Know" e "Rockxixe".

“Há Dez Mil Anos Atrás” (1976)
Depois de não conseguir manter o sucesso de "Gita" com o sucessor "Novo Aeon" (somente 60 mil cópias vendidas), Raul Seixas se recuperou com o disco "Há Dez Mil Anos Atrás". O trabalho também marcou o fim da bem-sucedida parceria entre Raulzito e o futuro escritor Paulo Coelho. O disco conta com os sucessos "Eu Também Vou Reclamar", "Meu Amigo Pedro", "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" e "Canto Para a Minha Morte".

“Novo Aeon” (1975)
Apesar de "Novo Aeon" ter frustrado comercialmente Raul Seixas e a sua gravadora, é inegável que o trabalho tenha registrado grandes clássicos. Muitas canções são veneradas por diversos fãs. Entre elas "Tente Outra Vez", "Rock do Diabo", "Eu Sou Egoísta" e as bem humoradas "Tu és o MDC da Minha Vida" e "É Fim do Mês", que lembra o estilo de "Ouro de Tolo". “Novo Aeon” era um dos álbuns preferidos de Raul e do seu último parceiro Marcelo Nova, que liderava a banda Camisa de Vênus.

“Panela do Diabo” (1989)
"Panela do Diabo" foi lançado pouco antes da morte de Raul Seixas e contou com a parceria do baiano Marcelo Nova (Camisa de Vênus). O líder do Camisa de Vênus foi responsável por tirar Raul do ostracismo e motivar a criação de um grande disco do rock brasileiro. Antes de lançar o trabalho, Raul tinha gravado dois discos pela gravadora Copacabana que não conseguiram superar os clássicos anteriores. O LP demonstra grande influência do rock tradicional da década de 50. Destacam-se as canções "Rock ‘n’ Roll", "Século XXI", "Quando Eu Morri" e os eternos sucessos "Pastor João e a Igreja Invisível" e "Carpinteiro do Universo". Os fãs têm um carinho especial pelo trabalho por ter fechado de maneira emblemática a carreira do rei do rock brasileiro. É importante lembrar que a primeira parceria musical de Raul e Marcelo Nova foi na música "Muita Estrela, Pouca Constelação", do disco "Duplo Sentido", da banda Camisa de Vênus. O bom resultado incentivou a união dos dois músicos para a realização de "Panela do Diabo.

“O Dia Em Que a Terra Parou” (1977)
O álbum foi o primeiro após o fim da parceria de Raul com Paulo Coelho. A ausência do mago foi sentida. A crítica não gostou do disco e o cantor realizou menos shows de promoção do trabalho. Mesmo assim, o disco emplacou grandes sucessos como "Maluco Beleza" (canção mais conhecida do cantor), a faixa título, "Sapato 36" e "No Fundo do Quintal da Escola".

“Por Quem os Sinos Dobram” (1979)
O LP foi o último na gravadora WEA. Apesar de não contar com grandes sucessos e indicar que Raul não tinha a mesma popularidade do início da década de 70, o disco apresenta grandes canções como a faixa título, "Movido a Álcool", "O Segredo do Universo" e "Ilha da Fantasia". O trabalho conta ainda com a participação do guitarrista dos Mutantes, Sérgio Dias.

“Mata Virgem” (1978)
É o álbum menos rock ‘n’ roll da discografia solo de Raul Seixas. O trabalho conta com ritmos como baião, forró e às vezes lembra música caipira. Na época, Raul sofreria as primeiras crises de pancreatite. Belas canções compõem o LP, como a pesada disco music, "Judas", "Pagando Brabo" e "Todo Mundo Explica". O LP marca também o retorno da parceria de Paulo Coelho e tem a participação de Pepeu Gomes na guitarra.

“Raulzito e os Panteras” (1968)
É o primeiro registro discográfico de Raul Seixas. Ao lado da banda "Os Panteras", o baiano fez um álbum que se aproxima do estilo Jovem Guarda. O LP, gravado em 1967 e lançado em 1968, expôs uma versão em português de "Lucy in The Sky With Diamonds" (Você Ainda Pode Sonhar) dos Beatles. A estreia de Raul não foi bem-sucedida. O disco vendeu pouco, motivando a separação precoce do grupo.

“Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10” (1971)
A segunda banda comandada por Raul Seixas também lançou outro fracasso de vendas. Ninguém entendeu o disco "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10", que foi gravado quando Raul era produtor da CBS. As músicas não foram sucesso de público, crítica e a gravadora mal divulgou. O LP foi praticamente engavetado. Como influências, Raul Seixas e os integrantes Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star utilizaram os Beatles da fase "Sgt Peppers", Frank Zappa e o movimento da Tropicália. Nos anos seguintes o LP se tornou raro e virou cult. Como várias lendas envolta de Raulzito, dizem que a mistura de samba, seresta e rock custou o emprego de Raul na CBS. Percebe-se no disco que Raul buscava sua identidade, que finalmente foi encontrada em "Krig-ha, Bandolo!".