A cantora, compositora e violonista Nara Leão completaria exatamente 80 anos nesta quarta-feira (19). O apartamento dos seus pais, de frente para a praia de Copacabana, reunia a nata da Bossa Nova, incluindo Johnny Alf, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Luiz Eça, Edu Lobo, João Donato, Sérgio Mendes. Só a turma boa. E lá estava Nara, não devendo nada a ninguém. Nem com o violão em mãos. 

Com uma obra eclética, que abrange da bossa nova ao tropicalismo, da era do rádio ao samba do morro, Nara contribuiu muito para a confirmação da MPB como gênero musical. Na estreia no Beco das Garrafas, em 1963, ela se familiarizou com a sonoridade do “samba novo” ou “samba jazz”, contrastante com o aspecto enxuto da bossa nova. Essas mudanças se fazem presentes em seu primeiro disco de carreira, "Nara" (1964). Sua interpretação leve e despojada apresenta alguma relação com o canto minimalista, influenciado por João Gilberto, é verdade. Mas Nara rompe com essa estética no LP "Opinião" (1964), buscando maior contundência em sua performance.

A cantora contribuiu para reavivar o interesse pela bossa nova, num momento de ostracismo do gênero no Brasil, com o lançamento da antologia "Dez Anos Depois" (1971). Nara Leão não foi somente “a musa da bossa nova”, como se diz por aí. Ela desafiou convenções e transitou por inúmeros gêneros. Queria um estilo menos água com açúcar, mirava uma música mais realista. Também se posicionou contra a ditadura militar. Com seu violão, pulsava um estilo próprio. E dava entrevistas com naturalidade, sem medir palavras. Nara Leão morreu 1989, aos 47 anos. 

Para quem quiser saber mais sobre Nara Leão, boas dicas são o livro “Chega de Saudade”, de Ruy Castro. E também a série que acabou de estrear na Globoplay, chamada “O Canto Livre de Nara Leão”. O documentário de cinco episódios tem direção de Renato Terra e desconstrói o título de musa da bossa nova ao refazer a vida na cantora no Rio de Janeiro.