Talentoso sem botar banca, Billy Blanco, o construtor de crônicas, nascia há 98 anos 09/05/2022 - 10:40

Thobias de Santana

Quem de nós não conheceu um espírito jovem, ainda em desenvolvimento, para ser eufêmico, que se acha mais relevante do que o outro, não fala com os mais modestos e só cumprimenta, de forma esfuziante, a “diretoria”. Alguns extrapolam todos os limites, inclusive os da lei.

As religiões, algumas entidades e a própria família tentam transformar esses espíritos ao ensinar-lhes sobre a necessidade de se combater vícios, manias e ignorância manifestadas como, por exemplo, na soberba. A sabedoria popular materializada por seus artistas, contudo, talvez seja mais efetiva para provocar certas reflexões. E Billy Blanco, notável profissional da arte de construir, fez isso como ninguém em “A Banca do Distinto” um dos seus grandes sucessos.

Billy Blanco certamente tropeçou com sujeitos preconceituosos, racistas e ocos quando escreveu “Pra que tanta pose, doutor/ Pra que esse orgulho/ A bruxa que é cega esbarra na gente/ E a vida estanca/O enfarte lhe pega, doutor/ E acaba essa banca...”

William Blanco de Abrunhosa Trindade, nosso Billy Blanco, Nasceu em Belém-PA, em 8 de maio de 1924. Estudou arquitetura na Universidade Mackenzie, escreveu trabalhos de fôlego como "Sinfonia Paulistana", concluída em 1974, e foi parceiro de grandes músicos como Baden Powell, em "Samba Triste" e Tom Jobim, em "Sinfonia do Rio de Janeiro."

Esse talento para relatar o dia a dia, falar da nossa gente, da nossa cultura, com verdadeiras crônicas, foi reconhecido por muitos. Escreveu “Teresa da Praia”, “Viva Meu Samba”, “O Morro” e inúmeras outras, contando com a interpretação de diversos monstros sagrados como  Lúcio Alves, Elis Regina, João Gilberto, Dick Farney, Sílvio Caldas, Miriam Batucada, Elizeth Cardoso e Pery Ribeiro.

Billy Blanco teve participação ativa na história dos festivais da canção, como consta no livro “A Era dos Festivais”, de Zuza Homem de Mello. Em 1965, no Festival da TV Excelsior, participou com a canção “Rio do Meu Amor”, defendida pelo craque Wilson Simonal. No “I Festival Internacional Da Canção Popular”, em 1966, apoiado e transmitido pela TV Rio, Blanco concorreu com “Se a Gente Grande Soubesse”, defendida por Billinho, filho do mestre, e o afinadíssimo Quarteto em Cy. Já na “I Bienal do Samba da TV Record”, em 1968, participou com “Canto Chorado”, defendido pelo competentíssimo Jair Rodrigues.

Billy Blanco é uma página obrigatória para a compreensão da MPB. Billy nos deixou no dia 8 de julho de 2011, se bem que, como ele próprio pregou em uma canção sua: Canta/ Sempre serás feliz quando cantares/ E dentre as coisas pelas quais lutares/ O canto puro simples não esquece/ Numa prisão, na igreja ou na rua/ Uma canção tem força de uma prece/ Não haverá no mundo quem destrua/ Morre o cantor e o canto permanece.