Wanderléa cai no choro: ouça "Delicado", com participação de Hamilton de Holanda 05/05/2023 - 14:38

Produzido pelo Selo Sesc, o álbum "Wanderléa Canta Choros" faz um duplo movimento da cantora de volta às suas origens: ela revisita seu início de carreira como intérprete em programas da Rádio Mayrink Veiga, quando era acompanhada por um dos mais importantes grupos de choro da época, o Regional do Canhoto, e, ainda, realiza seu projeto de valorização do choro, destacando o caráter original e primevo desse gênero na música brasileira. Com a direção e produção musical de Mario Gil, direção artística de Luiz Nogueira, pesquisa de Roberta Valente e direção de mixagem de Lalo Califórnia, o disco "Wanderléa Canta Choros" chega ao público nesta sexta-feira (5), com o primeiro pelo single, “Delicado”, canção de Waldir Azevedo e Ary Vieira, e gravado com a participação especial de Hamilton de Holanda (ouça abaixo).

“Wanderléa se entrega -- com dedicação e conhecimento -- a esse gênero fundador, marcado por uma mistura entre o erudito e o popular e pela genialidade de seus instrumentistas na criação e na execução das composições”, conta Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. “Ao lançar mais esta obra, o Sesc SP reforça sua ação eminentemente educativa de democratização do acesso aos bens culturais, ao contribuir para a difusão de um dos marcos da música popular e da cultura brasileiras, estabelecendo um diálogo entre a produção contemporânea e o legado histórico. A homenagem de Wanderléa ao choro enriquece o repertório da cantora e valoriza um gênero musical centenário, em constante renovação”, comenta.

O choro surgiu em meados do século XIX, no Rio de Janeiro, trazendo em sua raiz a mistura rítmica oriunda da África e das formas europeias. Nessa época, formados inicialmente por flauta, violão e cavaquinho, surgiram os grupos regionais de choro. As mãos habilidosas de Chiquinha Gonzaga fizeram história na evolução do gênero ao levar o chorinho ao piano, o que a consagrou como a primeira e mais influente pianeira -- como eram chamados os pianistas do estilo musical -- sendo uma das poucas figuras femininas a cravar o seu nome no choro.

A associação automática da figura de Wanderléa com a Jovem Guarda ainda é muito presente, dado seu sucesso no que se constituiu um dos grandes movimentos culturais de massa do país. Embora Wanderléa tenha um espaço preeminente na memória afetiva dos brasileiros, ela trilhou diversas vertentes da música popular, tendo gravado compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gonzaguinha, Sueli Costa e Egberto Gismonti.

Agora, através do Selo Sesc, Wanderléa pela primeira vez lança um trabalho dedicado ao choro, com um repertório que traz clássicos como “Carinhoso”, de João de Barro e Pixinguinha, “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo e Pereira da Costa, e “Pedacinhos do Céu”, também de Waldir Azevedo e Miguel Lima, incluindo a canção inédita “Um Chorinho para Wandeca”, composta por Douglas Germano e João Poleto em homenagem à relação da cantora com o gênero. As 12 canções que compõem o álbum serão lançadas no dia 12 de maio em todas as plataformas de streaming.

“O choro me encantou desde pequena. Quando ouvia Ademilde Fonseca, articulando com extrema maestria a poesia daqueles versos, que se encaixavam com perfeição na sonoridade daquele repertório musical, era tudo muito mágico e eu, ainda bem menina, me divertia tentando acompanhar a rapidez poética daqueles versos, dentro do malabarismo e da beleza daquelas lindas melodias”, conta Wanderléa. “Hoje, neste disco de choros, neste resgate afetivo, realizo um sonho trazendo minha contribuição com autores pioneiros na criação desse ritmo que tanto valoriza nossa cultura nacional”, complementa.

Wanderléa influenciou gerações e, com seu estilo de cantar, abriu portas em gêneros musicais que ainda tinham pouca ou nenhuma presença feminina. Sua figura ditou moda, comportamento, estilo de vida e empoderamento feminino no campo social. “Este encontro de uma intérprete, que faz parte da formação afetiva do povo brasileiro, com o choro está pautado por quem ela é, por tudo o que canta, pelas pessoas que ela toca e pela plenitude do que vive”, conta o diretor artístico Luiz Nogueira.

O álbum Wanderléa Canta Choros também traz um time de ouro com sete arranjadores, entre eles, Cristovão Bastos, Toninho Ferragutti, o próprio João Poletto e Milton de Mori, referências do choro paulista, e Angelo Ursini, professor da Escola Portátil de Música na Holanda.