Pérola do Olhar de Cinema, “A Rainha Diaba” é o fôlego final do Cinema Marginal 13/06/2023 - 15:27

Felipe Worliczeck*

Uma das experiências mais catárticas que o cinema proporciona são filmes com violência gratuita e exacerbada. Apesar de mórbidos, eles servem muitas vezes como válvula de escape para a vida cotidiana, e o longa “A Rainha Diaba” (1974), presente no Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, representa muito bem isso em uma história marginal, nos diversos aspectos da palavra.

A obra, dirigida por Antonio Carlos da Fontoura com roteiro de Plínio Marcos, conta a história do bandido homossexual conhecido como Rainha Diaba (Milton Gonçalves), com suas intrigas e desafios pelo controle do tráfico de drogas no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. A Rainha Diaba é inspirada em Madame Satã, famoso transformista e criminoso carioca do século XX. 

O filme é um dos últimos expoentes do Cinema Marginal, subgênero com origens em São Paulo, representado por obras como “O Bandido da Luz Vermelha”, filme de Rogério Sganzerla de 1968. 

Muitos dos principais elementos do movimento encontram-se em “A Rainha Diaba”, como a inspiração em filmes americanos da indústria cultural da época, e nas características apelativas do cinema exploitation, presente atualmente em filmes do diretor Quentin Tarantino. O aspecto marginal, palavra que o movimento carrega consigo, é exacerbado tanto pela região periférica em que a obra se passa quanto pela questão queer que o filme trata, em uma época que a ditadura militar reprimia o que considerava comportamentos sexuais “desviantes”.

A maneira que o Cinema Marginal encontrou para falar desses aspectos e não sofrer muitas represálias, caso do Cinema Novo, foi justamente pela produção de obras com apelo comercial. O último ato do filme, por exemplo, é caracterizado por uma chacina que beira ao absurdo, servindo mais como um dispositivo de entretenimento do que invenção experimental. 

Apesar de seus avanços temáticos, “A Rainha Diaba” desemboca em diversos problemas históricos do cinema nacional, especialmente na sua caracterização feminina. Além da falta de repreensão à violência doméstica, o filme conta com uma extensiva e desnecessária cena de tortura contra a personagem Isa Gonzalez (Odete Lara), que não adiciona à história ou propõe forma alguma de entretenimento.

Para saber mais sobre o cinema nacional e internacional, acompanhe a nossa programação, com a coluna Cinema na Educativa, com Paulo Camargo, e o programa CineBrasil, que destaca produções nacionais importantes.

SERVIÇO
Filme “A Rainha Diaba” - no Olhar de Cinema 
Exibições 15 e 16 de junho
Horários: 16h (dia 15) e 20h15 (dia 16)
Ingressos esgotados

*Estagiário, sob supervisão de Cristiano Castilho